11 de maio de 2012

Existe um "padrão" de Parto Humanizado?

Quando o assunto Parto Humanizado é mencionado, quais são as primeiras representações que lhe vêm em mente? Você já argumentou alguma vez que era coisa de gente corajosa (ou maluca, hipponga, natureba) parir em casa e sem anestesia? Ou então que são “super mulheres” que não sentem dor e colocam a expectativa das outras lá em cima? Pois saiba que a Humanização do Nascimento é muito mais abrangente do que o senso comum imagina!
Recentemente, colocamos em debate em nosso grupo de discussão se estaríamos legitimando algumas práticas em detrimento de outras e se assim existiria - ou estaríamos criando - certos padrões de Parto Humanizado, como esses aí acima. Sentimos a necessidade desse debate porque verificamos que há uma visão limitada sobre o movimento de Humanização do Nascimento, visto que muitas mulheres sentem-se excluídas ou diferenciadas por não desejarem ou não terem conseguido “aquilo tudo” que supostamente seriam esses padrões.

Exemplificamos o caso de uma mulher super empoderada e informada, que após avaliar custos e benefícios, opta por uma determinada intervenção que lhe traga conforto e satisfação e questionamos se este parto seria “menos” ou “meio” humanizado. Ou então, se em um parto houvesse a necessidade do uso de alguma intervenção, poderíamos dizer que alguma coisa “deu errado”?

Todas as respostas apontaram que humanizar o parto não é estabelecer padrões para que as mulheres sigam. Se assim fizéssemos, estaríamos cometendo o mesmo erro que criticamos: a criação de padrões que não possuem a capacidade de atender às subjetividades da dupla mãe-bebê. Humanizar está muito mais baseado em apoiar mulheres (e famílias) em busca de informações de qualidade sobre o parto, baseadas em
evidências científicas e não em mitos/ meias verdades/ terrorismo, para que estas possam fazer suas próprias escolhas de forma consciente, respeitando-as como protagonistas do seu próprio parto e donas do seu corpo. E intervir somente quando necessário ou solicitado.

(Nesse leque de escolhas não debatemos a cesariana eletiva, pelo fato de ela não ser uma via de parto, mas uma cirurgia que, como tal, não admite protagonismo da mulher. Cesarianas foram feitas para salvar vidas em casos em que o risco de um parto normal compromete a sua segurança.)

Para ilustrar melhor, seguem trechos das respostas obtidas no debate:


“Olha, eu acho que a humanização envolve necessariamente o protagonismo da mulher. Eu poderia claramente questionar se meu parto foi humanizado, porque não tive a opção de escolha do local (estava no hospital e não pude ter alta), no entanto, tive liberdade durante todo o trabalho de parto e parto. Escolhi local, posição, intervenções. (...) Eu, particularmente, acho que um parto pode ser humanizado com intervenções, desde que essas sejam solicitadas pela mulher e debatidas, ou que tenham sido extremamente necessárias. (...) Mas, enfim: pra mim, parto humanizado não tem padrão. Não tem que "ser em casa, com doula, de 4, marido aparando, sem anestesia, sem intervenção, sem nada". Tem que ser "do jeito que a mulher quiser".” - Lúcia, mãe do Rafael de 6 meses

"Eu acho que o movimento de humanização do nascimento tem como objetivo devolver protagonismo à mulher. (...) o importante é que haja uma escolha consciente, informada e responsável da mulher (ou da família mãe-pai). Definir o que é certo não é dar protagonismo, é mudar o dono da razão. Assim, acho que sempre que as escolhas informadas forem da mulher, dentro da realidade e das possibilidades dela, estamos falando em parto humanizado (e eu também falo aqui em parto e não em cesárea marcada). (...)Eu só não aceito meias-palavras, meia-informação, direcionamento, indução a alguma ideia baseada em mitos e terrorismo, aí não há humanização ou respeito." - Alessandra, mãe do João de 7 anos.


“(...) Entendo que humanizado se refere a RESPEITO. RESPEITO pela mãe, por sua história, seus desejos, sua vontade. Isso em primeiríssimo lugar. Respeito a seus tempos, seus processos, suas necessidades, seus medos. RESPEITO pelo bebê, de ser recebido sem violência, com amor, calma, por sua família, também respeitando seus tempos. Respeito é amor... Além dessa premissa básica e fundamental, que para mim define o "humanizado", acho que também entra o DIREITO DE ESSA FAMÍLIA TER TODA A INFORMAÇÃO NECESSÁRIA sobre as opções que tem e as possíveis consequências de cada opção, informações baseadas em evidências e não em dogmas nem achismos. E, assim, que a família (primeiramente a mãe, mas óbvio que há uma estrutura familiar que deveria ser igualmente informada) possa fazer SUAS melhores escolhas, de acordo com suas crenças, histórias, e tudo mais. (...) É o que entendo por parto humanizado, embora pessoalmente seja partidária do "mais natural possível"! Porque no fim das contas, o que queremos é uma família unida e que receba esse bebê com amor, e não mais traumas acumulados e ressentimentos que acabam ficando no bebê." - Laura, mãe da Vitória e do Lucas

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